O Deus que se esconde

Somos infantis quando acreditamos, como muitos, que Ele está nas rodas de intelectuais, que discutem a sua existência, tentando pelo empirismo comprová-la. Acreditamos, muitas vezes, que este conhecimento prove a nossa capacidade humana, ao invés de provar a simples vontade d’Ele em se fazer conhecido. Ele se esconde dos sábios e dos arrogantes, brincando com estes elementos inerentes à espécie humana, nos ensinando que onde nos achamos mais capazes, demonstramos nossa incompetência carnal.

Deus se esconde para os sábios no mesmo momento que escolhe se revelar aos mais humildes. Ele se revela numa sarça ardente a Moisés. Para quem conhecia o deserto, era comum ver sarças ardentes, mas somente o humilde olharia e veria que o fogo não a consumia.  Ele se revela em Jesus, falando verdades espiritualmente profundas, em simples historinhas da vida cotidiana,  as quais só os humildes entendem e os sábios ignoram. Ele se revela numa simples criança que nasce numa manjedoura, onde sábios, humildemente vindos de um lugar distante, conseguem ver uma simples estrela no céu, que passa despercebida dos sábios conselheiros do palácio. Revela-se num carpinteiro. que passa dificuldades comuns, como fome, sede, dor, a quem os simples conseguem ver como “meu Deus e meu Senhor” e os sábios, no templo, como alguém que quer desestabilizar sua religiosidade. Revela-se, sendo castigado com a crucificação entre dois criminosos, num lugar problemático, no Império Romano, que está sendo abandonado pelos seus seguidores e ofendido pelos seus algozes. Diria um sábio: “Deus não pode estar com este homem”. O se esconder de Deus é tão profundo que se esconde de forma escancarada, como uma criança que se esconde atrás da cortina com os pés aparecendo, mas o engraçado é que Ele se esconde como se fosse a cortina, enquanto os sábios discutem a forma das unhas de seus pés e ignoram o Deus que se revela. É assim com a natureza, em que os céticos que procuram Deus, com base em seu empirismo dentro de si, seu intelecto, suas ações e sua subjetividade e, não o achando, ao contrário dos simples, que observam que “os céus revelam a Sua glória”.

Este Deus se esconde para os sábios na sua revelação, que para os simples é “lâmpada para os pés e luz para o seu caminho” e para os sábios é um emaranhado de histórias desconexas e sem sentido, de uma cultura milenar, que traz apenas preconceitos perpetuados pela ignorância e senso comum.

Os céticos procuram Deus em seu coração vazio e se afastam do Deus que se esconde e os simples observam e veem o Deus escondido, que se revela a eles e, faz morada dentro deles, pelo fato de poderem o ver escondido escancaradamente, à mostra de quem o quer conhecer.

E o interessante é que, ao observarmos este Deus escondido, Ele vai dando luz para que o conheçamos e vai se escondendo do que começa a se achar sábio aos seus próprios olhos.

Que sejamos humildes para que Ele se revele a nós neste dia.

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