Charles Spurgeon tem sido adequadamente descrito como um daqueles pregadores que aparece uma vez a cada 100 anos, em quem todos os poderosos dons que são úteis ao ministério estão depositados. Sua vida e obra permanecem hoje, mais de 100 anos após sua morte, encorajando e desafiando ministros do evangelho que estão diante do terceiro milênio.
Qualquer estudo do ministério de Spurgeon revela imediatamente um homem obsediado pelo evangelismo. Desde o momento de sua conversão até o dia de sua morte, Spurgeon manteve uma intensa preocupação pelas almas. Era fanático quanto ao assunto “em todas as formas corretas”. Como pastor, levou muito a sério o conselho apostólico para fazer “o trabalho de um evangelista”. E diligentemente procurou despertar uma preocupação evangelística nos membros de sua igreja e em seus colegas pregadores.
Este fato confunde alguns estudiosos da vida de Spurgeon, pois, junto com esse fervor evangelístico (e, poderíamos dizer, a despeito das afirmações contemporâneas em contrário), ele jamais se afastou do profundo compromisso com as doutrinas da Graça. [...] Ele o fez não por qualquer tipo de devoção a um homem ou a um sistema filosófico, mas por estar convencido de que todas as verdades que historicamente sempre estiveram debaixo dessa bandeira não eram outra coisa senão o cristianismo bíblico. Foi esta compreensão que o capacitou a pregar a Cristo de forma tão simples e persuasiva.[...]
Há uma geração de pastores que cresceram com o evangelismo modelado de acordo com a arte de vendas. Alguns dos manuais de evangelismo modernos diferem muito pouco do livro The Art of the Deal (A Arte do Negócio), escrito por Donald Trump (um milionário de nossos dias). Esse tipo de evangelismo tem causado grande estrago às igrejas, enchendo-as de pessoas não convertidas e, em última análise, confundindo os crentes acerca da verdadeira natureza do cristianismo. Tal evangelismo é
mortal e precisa ser rejeitado. Mas, como Jesus alertou, quando um espírito imundo sai de um homem, se tal espírito não for substituído, logo voltará e trará consigo “outros sete espíritos piores que ele,..” e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. (Mt 12.45) “Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa”. O evangelismo falso precisa ser substituído pelo verdadeiro. Spurgeon pode nos mostrar o caminho, especialmente em termos de atitudes interiores e desejos. [...]
É praticamente impossível encontrar um sermão impresso de Spurgeon que não contenha algum tipo de apelo ao não-convertido. Eles estão cheios de alegações, argumentos, alertas e instruções aos pecadores, chamando-os e convidando-os a virem a Cristo. A própria atitude de Spurgeon é refletida no retrato de João Bunyan de um verdadeiro ministro do evangelho, em O Peregrino. [...]
“Novamente, se tivermos de ser revestidos do poder do Senhor, precisamos sentir um intenso anelo pela glória de Deus, e pela salvação dos filhos dos homens. Mesmo quando somos os mais bem-sucedidos, precisamos anelar por mais êxito. Se Deus tem nos dado muitas almas, precisamos ansiar por milhares de vezes o que temos. A satisfação com os resultados será a morte lenta do progresso. Não é bom para o homem pensar que não pode melhorar. Ele não possui santidade, se acha que já é útil o suficiente. Essa paixão ardente inevitavelmente determinará como um homem prega. Por um lado, ela o levará a empenhar-se para ser claro em seu discurso. Devemos dizer a nós mesmos: “Não; eu não posso usar esta palavra difícil, pois aquela pobre senhora que senta naquele lugar não me compreenderia. Não posso salientar aquela dificuldade obscura, pois aquela pobre alma poderá ser confundida por tal dificuldade e
não aliviada por minha explanação… Se você ama os seres humanos, você amará menos as palavras difíceis.”
O objetivo de ver almas ganhas para Cristo através da pregação também levará o pregador a labutar para ser interessante. “Como, em nome da razão, podem almas se converter por meio de sermões que embalam as pessoas a dormir?” É por esse motivo que o humor pode ter um papel legítimo na pregação. Spurgeon ponderou que é “crime menos grave causar uma risada momentânea do que um sono profundo de meia hora”.
Ele é tão enfático nisto, que é fácil compreendê-lo de maneira errônea. Spurgeon não estava argumentando que o pregador é responsável pelo sucesso evangelístico de seu ministério; é responsável pela fidelidade à tarefa de evangelizar. Deus, em sua soberania, salvará aqueles que Ele quiser, quando e onde quiser. Spurgeon jamais duvidou disso. Todavia, ele se recusou a nos permitir esquecer que no âmago de um ministério fiel reside uma profunda paixão pelas almas de homens e mulheres. Ele disse: “Se os pecadores serão condenados, que pelo menos pulem para o inferno passando por cima de nossos corpos. Se perecerem, que pereçam com nossos braços e mãos tocando os seus joelhos, implorando que fiquem. Se o inferno tiver de ser cheio, pelo menos que seja cheio apesar de nossos esforços, e que ninguém entre ali sem estar avisado e sem que se tenha intercedido por essa pessoa”.
Se nossa doutrina não conduz à devoção, alguma coisa está tremendamente errada. Não terminaremos nossa tarefa até que a cabeça, o coração e as mãos concordem. Tal integração santificada de
nossa personalidade não será alcançada até que vejamos o Senhor face a face. Mas temos de nos esforçar para alcançar esse objetivo, aqui e agora. Tendo recebido o evangelho, precisamos estar engajados no evangelismo. E, quanto mais claramente tivermos assimilado o evangelho, tanto mais apaixonados haveremos de nos entregar à evangelização.
Thomas K. Ascol
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